Definição:
A infecção do trato urinário de repetição é definida por duas ou mais infecções em seis meses ou três ou mais infecções em um ano.
Epidemiologia:
A ITU de repetição é muito mais comum do que você imagina. Existem diferentes estudos que evidenciam a probabilidade de recorrência da ITU nos seis primeiros meses variando entre 27 até 44%, o que é uma taxa muito alta. De maneira mais clara, de cada 10 mulheres que tem um episódio de ITU, há uma chance aproximada de 3 a 4 dessas pacientes apresentarem um novo episódio dentro dos seis primeiros meses após a primeira infecção.
Fatores de Risco:
Vamos dividir os fatores de risco em fatores comportamentais, urológicos e biológicos/genéticos.
Sobre os fatores comportamentais, a vida sexual ativa e o uso de diafragma/espermicida como método contraceptivo são fatores de risco fortes e independentes para cistite simples aguda.
Falando sobre fatores de risco urológicos, principalmente nas mulheres pós menopausa, encontramos como fatores que aumentam o risco de ITU de repetição a atrofia vaginal, incontinência urinária, presença de um cistocele (prolapso da bexiga), além de um alto volume de urina residual pós-miccional, ou seja, aquilo de urina que sobra de urina na bexiga, imediatamente após um quadro de micção.
Já sobre os fatores de risco biológicos/genéticos, estudos sugerem que mulheres com cistite recorrente apresentam maior suscetibilidade à colonização vaginal por bactérias. Ou seja, algumas mulheres por fatores biológicos/geneticamente tem maior predisposição a ter ITU, e essa afirmação pode ser endossada, devido a observação do histórico familiar de infecção urinária (a mãe tinha ITU, a filha também… e assim por diante) e também em pacientes que tem uma primeira infecção do trato urinário (ITU) antes dos 15 anos de idade.
Diagnóstico:
O diagnóstico se baseia na história clínica do paciente e na presença de exames de urina compatíveis.
Preciso realizar exame de imagem? Para o diagnóstico específico de ITU, não. No entanto, o exame de imagem como tomografia ou ultrassom, podem ser úteis para investigação de causas que perpetuem a ITU de repetição, como por exemplo a presença de cálculo (pedra) nos rins , uropatia obstrutiva (dificuldade de escoamento da urina).
Tratamento:
O tratamento consiste em modificações relacionadas ao comportamento/estilo de vida além de antibióticos profiláticos quando indicados.
Sobre as modificações do comportamento as principais medidas são:
- Aumento da ingesta de água. Embora a quantidade ideal de fluido seja desconhecida, sugerimos uma meta diária geral de 2 a 3 litros de fluido diariamente. Por que fazer isso? Porque há o efeito teórico que um maior volume de urina ajuda a diluir e eliminar as bactérias pela urina.
- Modificação da contracepção. Mulheres com cistite recorrente que são sexualmente ativas ou que usam espermicidas (particularmente em conjunto com diafragmas) devem ser aconselhadas sobre o uso de outros métodos contraceptivos
- Micção pós-coito. É razoável sugerir às mulheres que a micção pós-coito precoce pode ser útil. Isso não foi demonstrado em estudos controlados para resultar em um risco reduzido de cistite recorrente, mas é improvável que seja prejudicial. Por essa razão é aceitável a adoção dessa prática.
- Estrogênio tópico para mulheres na pós-menopausa. Acredita-se que o efeito do estrogênio tópico no risco de cistite esteja relacionado à normalização da flora vaginal, o que reduziria o risco de ITU. No entanto tal recomendação necessita da avaliação de um especialista porque tal medida não é isenta de riscos/efeitos adversos.
E o uso de Cranberry?
Estudos de laboratório demonstraram que o suco de cranberry inibe a adesão de bactérias, às células do canal da uretra, o que reduziria o risco de ITU. Mas o fato é que os estudos clínicos até o momento não demonstraram de forma definitiva a eficácia na prevenção da cistite simples recorrente. Inclusive para aqueles que desejam tomar produtos de cranberry, os estudos até o momento não apoiaram uma dose específica ou frequência de ingestão. Dessa forma o seu uso como forma de prevenção da ITU não possui base científica sólida.
Sobre o uso de medicações, encontramos diversas opções que podem ajudar a previnir/reduzir os episódios de ITU. No entanto, o maneira mais eficaz e comprovada cientificamente para reduzir o número de infecções nesse grupo de pacientes é a realização de antibioticoterapia profilática, isto é, fazer o uso de antibiótico, por longos períodos em doses mais baixas para evitar o reaparecimento de ITU. No entanto, esse uso precisa ser adequadamente indicado pelo médico nefrologista uma vez tais medicações podem gerar diversos efeitos colaterais além de aumentar a resistência da bactéria ao antibiótico.
Algumas outras opções como uso de probióticos, uro-vaxom também podem ser analisadas e indicadas adequadamente pelo nefrologista a depender do contexto clinico do paciente.
Esse post tem o caráter informativo e educativo, porém não substitui uma consulta médica com o especialista. Cada paciente possui peculiaridades que precisam ser consideradas, examinadas e diagnósticas em consulta médica.